segunda-feira, 18 de julho de 2011

Lava Pés

Para os praticantes ou não, o simbolismo dessa data vai além dos ritos dominicais, por se tratar de um ato feito pelo próprio Cristo, cercado de lições explícitas de serviço ao próximo, mas sobretudo de lições implícitas que nos levam ao céu se as percebermos.
Naquele dia, Jesus escolhe uma casa para cear com seus discípulos. Sim, Ele escolhe uma casa, não vai a qualquer uma. Ele já tinha tudo preparado. E por isso já, minuciosamente, prepara o desfecho de sua missão terrena. Começava ali, em uma pequena casa, sua Paixão. Perceba que repeti várias vezes (de propósito) a palavra casa. Sua Paixão começa com um encontro em um lar. Nada melhor para nos demonstrar o que uma casa, uma família representava para Ele.
Como bom Judeu que era, respeitava com devoção os preceitos e costumes do seu povo e de sua crença. Por isso escolhe o fim da quaresma judaica para começar seu novo plano de amor. Dizem por aí, e não são as escrituras, que a casa que Jesus escolhera para cear com os seus, era a casa dos pais de um menino chamado João Marcos, e que seria depois, este mesmo jovem a seguir Paulo em suas missões, e posteriormente, teria sido reconhecido como sendo o mesmo Marcos que escrevera um dos evangelhos. Se não tiver para nós uma certeza histórica, fica então apenas a linda coincidência.
Depois deste momento, o da escolha da casa, Jesus começa seu plano. Sobe com os discípulos que, ao chegarem, um a um, se deparam com um enorme constrangimento. Diz a tradição, que um convidado para a ceia deveria estar devidamente purificado para dela participar. Esta purificação se dava pelo ato de lavar mãos e pés. Repito, não tinha tão somente o sentido de limpar, e sim o de purificar. Só havia um problema. Este serviço só podia ser realizado pelos escravos da casa onde a ceia se realizava, pois estes sim, por causa da camada social que participavam, podiam purificar quem da ceia fosse participar.
Como lavar os pés usando as próprias mãos? Ficariam elas impuras.
Neste momento Jesus os surpreende pela primeira vez. Dispensa os escravos e toma a toalha e a bacia com água e se põe a fazer o que só um escravo podia fazer: Lavar os pés dos convidados para que eles estivessem aptos para a ceia. Eu imagino a cena. Apóstolos pelos cantos perguntando uns ao outros: Onde estão os escravos? Se não nos lavarem não poderemos cear? E Jesus, o que o Mestre quer com isso?
Jesus quebrava regras, e esta foi muito importante. Jesus pôs-se a lavar os pés dos seus discípulos não só porque queria que eles comecem, mas na verdade para dizer-lhes que somente sendo servos uns dos outros estariam realmente prontos para o banquete. E que banquete? Esta é a melhor parte.
Como de costume, neste tempo judaico, para comemorar o início do tempo da colheita, se matava um novilho gordo ou um cordeiro e o servia como sacrifício em memória dos quarenta dias do povo no deserto. Jesus então faz outra surpresa. Serve pão, frutas do local, sementes e vinho. Não havia cordeiro. E porque? Porque Ele era o cordeiro a ser imolado. Ao partir o pão e proferir as palavras que bem conhecemos, imola sua própria carne e a entrega. Seu sangue Santo se derrama e é dado aos discípulos como sinal de uma nova aliança. Ele é o Cordeiro de Deus.
A mensagem que tiramos deste dia é transformadora. Além de Cristo nos mostrar que é servindo que entramos no reino, nos mostra que todo ato de humilhação que tivermos para com o outro, será um lava pés. E se não tivermos medo ou vergonha de seguir estes passos, estaremos fazendo mais do que um servir, estaremos preparando o irmão para o encontro com o Cordeiro. Toda vez que lavamos os pés, uns dos outros com atos de submissão, humildade, bondade e perdão, na verdade damos a chance sublime e única de que aquela pessoa que julgamos nunca estar pronta para ter um encontro com Cristo, possa, só porque fizemos a nossa parte, estar sentado, pronto e purificado, para cear na presença do Cordeiro Santo de Deus. Que o nosso Senhor Jesus nos encoraja nesta missão.
E aí já separou sua bacia e a toalha? Então, mãos a obra!
Quero dizer: aos pés!
Fonte: Márcio Pacheco

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Formação Catequistas - 09/07/2011

Reflexão - Mt 10, 34 - 11,1

O seguimento de Jesus tem uma série de implicações e não permite meio termo, pois exige radicalidade. Ou seguimos Jesus ou não seguimos, não existe seguimento até certo ponto ou de acordo com as minhas condições, o seguimento é incondicional. Para que isso seja possível, Jesus deve ser o valor absoluto de nossas vidas, devemos ser seduzidos por ele de modo que tudo façamos para estar com ele e realizar a sua vontade, a fim de que tenhamos coragem de, com ele, assumir a nossa cruz do dia a dia e segui-lo até onde for necessário. Somente quem tem um verdadeiro amor por Jesus e pelo Reino de Deus é capaz de viver de tal maneira.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A promessa do Rei


Um discípulo queixava-se com o seu mestre: - Por que muitos que se dizem tão sabidos não estão dando mais nenhuma confiança à religião?
Como resposta, o homem de Deus contou-lhe esta história: - Certa vez havia um rei que fez a solene promessa de nunca se manchar de sangue por nenhuma razão. Aconteceu que um homem, ao soldo de um rei inimigo, atentou contra a vida dele. Não conseguiu e foi pego na hora. O rei não mandou matá-lo, mas o enviou de volta para o mandante dele com esta mensagem: ”O seu sicário foi pego antes de consumar o meu assassinado. Mas eu o perdoei e lho envio de volta com um pouco de inveja. Com efeito, o senhor tem um servidor corajoso e leal“. No entanto, quando o preso foi entregue ao seu rei, este o mandou degolar imediatamente: não porque havia fracassado na missão, mas por suspeitar que ele havia sido libertado, por sua vez, com um plano para matá-lo. Aquele rei não podia absolutamente acreditar que fosse possível perdoar e colocar em liberdade um homem culpado de ter tentado homicídio, se não por algum obscuro desenho. Assim, muitos que se dizem tão sabidos neste mundo, não conseguem acreditar que por atrás do ensinamento religioso não tenha alguma coisa que os possa prejudicar. Preferem degolá-lo logo!
Com essa reflexão não quero contradizer os que afirmam estarmos vivendo um momento espetacular com as religiões. Deus está em alta. Nunca tivemos tantos templos nas nossas praças, ruas e avenidas. Templos de todo tipo, tamanho e cores, mais ou menos barulhentos. Nunca tivemos tantos pregadores gritando e invocando o nome de Deus e de Jesus. Nunca tantos canais de televisão apresentaram igual quantidade de milagres e falações. Painéis, cartazes, panfletos e músicas religiosas são incontáveis. Deveríamos já estar muito perto do céu, ou, ao menos, todos no caminho certo. Parece que não é bem assim. Notícias de violências, injustiças, desvios de dinheiro público, falcatruas e fraudes enchem jornais e noticiários.
O que está faltando? Claro que não posso responder a uma pergunta tão intrigante em poucas linhas. Simplesmente convido a todos a refletir sobre religião e religiões. Duas palavras, hoje, ajudam-nos a entender o que está acontecendo: relativismo e sincretismo. Relativismo significa que tudo é considerado como tendo o mesmo valor. Com isso, muitos acabam pensando que uma religião vale a outra, não se preocupam de conferir. Basta que fale, mais ou menos, de Deus, seja gratificante e interfira o menos possível na vida particular e social das pessoas. Desse jeito, o primeiro resultado é a incerteza em definir a própria fé. Este Deus perde a identidade, vira um “João Ninguém” ao qual se pode atribuir tudo e qualquer coisa.
Por sua vez, sincretismo significa, para simplificar, a mistura de tudo um pouco. É a “gororoba das crenças”, sem gosto e sem graça. Cada um pega o que mais e somente lhe agrada. O resultado, infelizmente, é de novo o mesmo: um Deus “arlequim”, sem um rosto e um jeito claro e definido. Assim “Deus” pode ser manipulado ao gosto do freguês, não incomoda e nem atrapalha a vida de ninguém. No final, porém, não serve mais para nada. Este Deus não ensina nada de novo e nem motiva a vida de ninguém, porque tudo o que cheira compromisso, participação, comunidade, conversão, fidelidade, instituição é cortado logo. Em nome de uma mal entendida liberdade cada um faz o que quer e acredita no que acha melhor ou mais vantajoso para si.
Na festa de São Pedro e de São Paulo podemos parar para pensar se conhecemos e estamos acreditando no mesmo Deus deles, no mesmo Jesus Cristo que eles pregaram e por causa do qual entregaram as suas vidas no martírio “um pela cruz e o outro pela espada”. São Pedro, a pedra, representa a firmeza e a solidez da fé. Temos uma história antes de nós, uma tradição; não podemos improvisar doutrinas e crenças. São Paulo, evangelizador e missionário, sempre será o modelo de anunciador de Jesus Cristo, morto na cruz e ressuscitado. É a este Senhor que devemos seguir, sem enfeites e edulcorantes.
Em tempos de tantas vozes e de tantas mensagens, religiosas e não, devemos buscar a palavra certa. Em época de incertezas, precisamos encontrar o caminho seguro. A não ser que também nós tenhamos perdido a confiança e vivamos com a suspeita de sermos sempre enganados. Onde tem desconfiança desaparece a fé. Para os cristãos devia ser o contrário.

Por: Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá - AP